sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Diálogo de um devaneio imortal ao antro da estupidez humana


O princípio da estupidez

Diz-se comummente que o estúpido é idiota ignorante imbecil. Vamos a ver, um sujeito que englobe estas três características não é de si um estúpido. Infelizmente a estupidez é o alicerce do problema não um efeito colateral ou resultado de um aglomerar de idiotices.

Ui o quanto já se escreveu sobre a estupidez. Mas quantos são o que sabem o que é a estupidez? Assim sendo e antes de mais cá vai:

Estupidez (de estúpido + -ez)
. qualidade de estúpido; acção ou estado de estúpido

Por isso quando nos referimos a estupidez queremos é o “estúpido”:

Estúpido (do lat. stupìdu-, «id.»)
. idiota; ignorante; imbecil; que não tem inteligência suficiente ou delicadeza de sentimentos; grosseiro; bruto; muito desagradável; enfadonho; uma pessoa que é estúpida;
. insensível para com uma verdade moral

Finalmente cá está a única definição que interessa: “insensível para com uma verdade moral”, todas as outras são para estúpidos as compreenderem.

Para eliminar desde já dúvidas e as más interpretações, deixo as definições científicas dos familiares próximos da estupidez, mas que não o são, porque são sim, problemas ingénitos ao nascimento, é a chamada tríade oligofrênica.
Oligofrenia (do gr. olígos, «pouco» + phrěn → phrenós «espírito, mente; inteligência» + -ia) sinónimo de atraso ou deficiência mental. Designa a gama de casos, no ser humano, onde há um deficit de inteligência, compondo a tríade oligofrênica: debilidade, imbecilidade e idiotia. Constitui os casos onde a capacidade cognitiva do indivíduo é anómala (inaptidão a apreender algo correctamente e incapacidade de fazer juízos sobre o conhecimento adquirido):

. Debilidade mental é, na psiquiatria, o grau leve. O portador apresenta a capacidade de julgamento perturbada e não se adequa facilmente a novas situações. No entanto não existem grandes prejuízos para a capacidade socializante dos portadores. Podem possuir uma vida civil relativamente válida.

. Imbecis (imbecilidade - do lat. imbecillitáte-, «fraqueza»), a psicologia expressa-o como um atraso mental acentuado, que incapacita o indivíduo a maiores estágios. Encontra-se entre a debilidade mental e a idiotia, distinguindo-se desta última pela aquisição da linguagem falada e pelo nível mental, acompanhado de um certo grau de desenvolvimento intelectual que permite um mínimo aprendizado, como o conservar a capacidade de obedecer a ordens e cumpri-las de forma satisfatória. A pessoa possui um carácter ingénuo, e é desprovida do entendimento da significação de bom-senso, que a pode tornar alvo fácil às sugestões. Pode ser facilmente condicionada para o mal, pois não possui os freios morais para que lhe permitam questionar as acções a que é conduzida.

. Idiotia, o termo como relevância científica caiu em desuso e foi absorvido pela cultura popular como ofensa. No entanto representa o grau máximo de oligofrenia. Com uma capacidade intelectual infra-humana, os indivíduos desse grupo têm dificuldades de aprendizagem mesmo ao nível da fala. Têm os seus instintos e capacidades vitais muito prejudicados aproximando-se dos estados comatosos. São incapazes de assimilar noções de higiene pessoal ou mesmo de abranger a noção de pudor. Podem desenvolver instintos como o de conservação, mas em relação às medidas de habilidades humanas, as escalas de inteligência caracterizam-no como Retardo mental, os indivíduos portadores possuem o menor grau de desenvolvimento intelectual.

Provindo do latim idióta-, «pessoa ignorante; idiota» - engloba noções de ausência de cultura, pouco inteligente ou sem bom-senso, com características de pretensão e vaidade; Do grego: idiótes, «homem sem instrução», ou pessoa privada, contrária ao homem de Estado, ou público que emanava valores sociais.
Aproximações históricas ao significado, associam o idiota, à ausência de valores éticos; incapacidade de fazer juízos ou agir com comportamentos que demonstrem sensatez.

Exemplo de idiota: – “Finjo ser idiota só para me enturmar!! Haha” [carece de fontes]. – Sem dúvida um tremendo idiota a nível executivo! Não fosse o jardineiro, o próprio P. Coelho.


As diferenças nos diferentes graus e categorias, são muitas vezes difíceis de se distinguir, e dificultam o diferenciar o indivíduo anómalo do normal, já que alguns conseguem a articulação oral, mas o défice de inteligência só lhe permite a aprendizagem mediante muito esforço. Outros possuem boa memória e são capazes de desempenhar tarefas simples porém incapazes de instruir-se na leitura ou escrita.
A estupidez, não pode ser vista somente como falta de inteligência ou problemas mentais, mas como uma ausência de capacidade que se perceber estúpido. Contrasta deste modo com a Ignorância que é a falta de conhecimento, o ser inculto, não a falta de inteligência.

Existem publicações, que divagam na forma de carácter científico, sobre a estupidez, mas auto-classificam-se de estudos ou introduções, pois que
a única maneira de se compreender o significado que os matemáticos atribuem a Infinito é contemplando a extensão da estupidez humana. [Voltaire] Entre outros, Walter B. Pitkin, publicou “Uma Breve Introdução à História da Estupidez Humana” e Carlo M. Cipolla o satírico ensaio “Il Mulino”, onde enumera As Leis Básicas da Estupidez Humana – de onde retiro o essencial:

. Subestimamos sempre o número de pessoas estúpidas. Mesmo as que pensávamos ser racionais e inteligentes, de repente mostram-se estúpidas sem dar margem a dúvidas.
. A probabilidade de que uma pessoa seja estúpida, é independente de qualquer outra característica de sua personalidade, e o quociente de estupidez é o mesmo se comparados géneros, raças, condições étnicas, educação etc.
. Uma pessoa estúpida é alguém que ocasiona dano a outra pessoa, sem que de tal resulte em vantagem para si, material ou outra, ou mesmo com prejuízo próprio.
. As pessoas não estúpidas esquecem constantemente que associar-se com gente estúpida invariavelmente constitui-se em erro com prejuízo.
. A pessoa mais perigosa que pode existir é a estúpida.
. Se o factor de estupidez é constante através do tempo e do espaço, uma sociedade forte em ascensão tem uma percentagem maior de gente inteligente, enquanto que uma sociedade que declina tem uma alarmante percentagem, de relação entre quociente de estupidez, e as pessoas em posição de poder.
. As pessoas inteligentes geralmente sabem que o são, mas as pessoas estúpidas não sabem que são estúpidas, e esta é a razão primaz por que são extremamente perigosas.


A vitória silenciosa da eterna revolução.

A estupidez é uma qualidade atribuída para se referir ao uso inadequado do juízo, ou insensibilidade a “nuances” (uma subtil ou ligeira gradação de um significado ou sentimento) por uma pessoa que se julga inteligente.

Coloca-se, numa perspectiva moderna, a possibilidade de acções estúpidas, praticadas por indivíduos que são muito educados, serem fruto de uma educação anormal. Esta classe de estupidez parece ser explicada, em noções como o “pensamento de grupo”, uma base contemporânea, que ainda que longe de ser provada, parece cada vez mais um exercício empírico. Indivíduos inteligentes podem ter um comportamento estúpido quando o seu pensamento racional é descarrilado por opiniões fortes ou crenças rígidas. Neste caso a vítima cai na polarização da confirmação e começa a seleccionar dados: tornando-se intencionalmente cego e surdo à evidência contrária, enquanto ao mesmo tempo colecta as evidências que apoiem as suas opiniões e crenças. Uma discussão com uma pessoa estúpida, é infortuita, pois que ela reduz a disputa ao seu nível, e vence por experiência.
O sustento e proliferação da essência, está na estupidez colectiva, uma individualização nas multidões que leva a condutas não indicadas fora da situação social específica. Os comportamentos ocorrem porque os indivíduos se conformaram às normas sociais percebidas “que lhe caibam” ou projectam uma impressão de si como o “normal”.
O indivíduo estúpido pode ser treinado a não o parecer, e pode viver num sistema colectivo sem ser detectado, mas mina constantemente tudo do que faz parte.
A história da irritante fonte da estupidez, está intrínseca à desde sempre existência de mentes preguiçosas e musas pseudo-intelectuais, que governam pelo poder do rebanho. Infelizmente o Estúpido, é um membro de uma numerosa tribo, cuja influência nos negócios humanos sempre foi preponderante. A comunicação social promove uma estupidez cultivada, como uma postura, que não só é aceitável mas louvável. A sociedade moderna prospera, pelo facto de as pessoas aceitarem sem questionar, o que lhes é dito.

Agora, caro leitor, supõe que és um estúpido. E supõe que és um membro de um partido político sensacionalista. Mas eu repito-me.

E caso tenhas um problema existencial de duvidares se és estúpido ou não! Lembra-te que é melhor estar em silêncio, e ser pensado um idiota, do que falar e serem removidas todas as dúvidas. Com o mundo repleto de idiotas, ninguém se pensa um ou suspeita disso.


O subjectivismo intelectual é o maior dos paradoxos, uma vez que é uma constante procura de aderentes que alimentem o ego. Fazer as pessoas pensarem por elas próprias é talvez a mais elevada ordem moral. Mas não se incorra no erro, de esperar ver nos outros a transcendência a que se atingiu. A libertação da estupidez é um estado solitário.

São características de alguém estúpido: a Conformidade de rebanho voluntária; o contra-produtivo Orgulhoso subjectivista; a ausência da dúvida no Dogma inquestionável e mesmo a redundante ideia Solipsista de um conhecimento objectivo limitado a quaisquer parâmetros. A falta de entendimento num estúpido é notável, e retira-lhe qualquer sensibilidade para com uma verdade moral. Ao contrário da mente que se abriu e não mais retornou ao seu tamanho original.

Estupidez gera estupidez e auto-promove-se. Ao contrário da ignorância, não pode ser contrariada facilmente com umas quantas lições intensivas num curso de verão. É mesmo a derradeira oposição ao bem-estar pessoal, e dos limites humanos.

Se da estupidez fizer parte: “auto-destruição inconsciente”, a única verdadeira questão filosófica que existe é a de se um homem-não-estúpido tem obrigações para com um estúpido, e onde termina a fronteira do livre-arbítrio. Até que ponto é o homem de boa-vontade, compelido a explicar algo a alguém, que não faz por adquirir um estado superior por si próprio? É que é uma ironia tramada, o facto de que o idiota não tem consciência de que o é, e desse modo não faz nada para colmatar essa lacuna.

Quanto a mim!? Eu desisto da minha cruzada de livrar o mundo de estúpidos… a realidade caiu em mim e descobri que eles são, simplesmente demasiados. E uma só vida minha não chega para ver realizada a epopeica proeza. Tenho mesmo a certeza que os próprios deuses imortais, combatem a estupidez em vão, e ressentem-se do dia, aquando da criação, em que não limitaram a estupidez humana.

A diferença entre uma pessoa estúpida e uma não estúpida é que a última supera-se a ela própria.

No fim de tudo isto, o que me irrita o juízo, é aquela certa genialidade que anda acompanhada de um certo grau de estupidez que eu ainda não consegui decifrar.